sábado, 10 de setembro de 2016

A mulher desiludida

Não é meu o título. É da Simone Beauvoir. Um livro com três contos sobre mulheres distintas. Voltando do centro, quase uma hora de ônibus, leio o livro e penso qual delas eu seria. Voltava da terapia e me sentia desbotada como se todas aquelas mulheres me habitassem. Não faço pergunta porque não quero ouvir as respostas. O enunciado rompeu minha frágil redoma e desejei voltar ao tempo e fazer as perguntas. Todas elas. Você me ama? Por que eu não posso ser assim? Posso ficar? Por que você não me escolheu? Você gostou do poema? Por que você me telefonou? Posso ir embora agora? Você me ama? Senti-me, então, esvaziada, como se as perguntas todas fossem as respostas. Senti-me mesmo triste por ter perdido minhas perguntas preciosas e porque as respostas não me importavam mais. Estava desiludida. O gélido fim da tarde, a chuva que insistia em escorrer, a lama grudada em meus sapatos, as pontas das roupas molhadas, as pessoas sisudas que entravam e saiam do ônibus ansiando não precisar se mexer, contornavam minha desilusão. Adornavam a quente sensação de deixar partir tantos anos de cuidados com as feridas. Se elas estavam fechadas? Qual a importância? Mesmo a mágoa é um sentimento que não passa de uma desilusão. E me senti calma. Apenas queria manter vazia minhas entranhas. Olhava a chuva, via o dia afundar-se novamente, um atropelo de angustias brotavam como mofos. Isso. Muita chuva e os mofos brotam aqui e ali. Manchando paredes. Eu estava manchada.

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