sábado, 18 de janeiro de 2020

Desenhei miragem tolas

As palavras são de uma canção do Skank. As músicas da banda narraram acontecimentos durante toda a minha vida, em especial, a amorosa. E, no final do ano passado, o vocalista concedeu uma entrevista e disse: é o fim. Na correria, não tive tempo de pensar o que realmente aquilo significava, mas ao ouvir Fotos na Estante, enquanto procurava um livro na pequena livraria no centro de Santa Maria, pensei que a metáfora do fim também cabia a mim. Sem novas canções, o  amor (ou a ilusão que tenho sobre...) ficara atrelado ao um punhado de versos antigos e gastos na boca. Não haverá para ele nenhuma letra nova que o faça renascer e me faça identificar: "nossa, é isso que eu sinto. Sem o Skank tudo o que eu sentia e se encaixava - de quando em quando - naquela batidinha romântica, ou ainda, as definições que me foram dadas ("pois amores imperfeitos são as flores da estação") ficarão no passado que, por vez ou outra, será recuperado em alguma festa, encontro com os amigos, melhores canções dos anos tal. E só. Fiquei, então, aliviada.
Sempre achei os versos  "desenhei miragens tolas nas margens do seu deserto/e uma verdade impossível só pra ter você por perto" algo que representava o modo como amorosamente crio as versões de algumas pessoas em minha vida. Sempre achei que o Skank continuaria a cantar canções que continuariam a representar o caminho de  meus amores. Mas o Skank acabou e passado o atordoamento, fiquei feliz, pois as coisas inventadas, desenhadas, impossíveis, podem - assim como as músicas da banda - ficar no passado e aparecerem (melhor seria se não) só de quando em quando. Agora começo uma nova trilha sonora. Sem "memórias irreais do que nunca aconteceu."

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Da irmandade

Fui criada muito no interior e lá, mesmo a contragosto - em muitos casos - éramos pessoas coletivas. Eram tias, primas, vizinhas, amigas da escola. Uma rede de proteção e, mesmo que não tivéssemos direto à privacidade, pois éramos vigiadas, aconselhadas, vestidas e cuidadas por um todas, não nos importávamos verdadeiramente. Para mim, as tardes nas cadas das tias, avós, vizinhas..., tinham um efeito reconfortante. Relações majoritariamente femininas, por isso lembro-me de que ficavam em casa as crianças da minha vizinha quando ela ia para algum lugar, por isso nós ficávamos na casa dela quando a mãe saia. Era uma sororidade brusca, mas, ainda assim, nos fazia (a mim pelo menos) ter a impressão de pertença. E eu sempre precisei pertencer.
Tudo isso para falar da Silvana.
Pois bem, Silvana não foi minha vizinha. Moramos perto por algum tempo, ela casa do fundo do portão azul, eu, com a minha mãe e meu irmão. Conto da Silvana, pois pedi outro dia umas receitas culinárias e ela me mandou com uma observação de que as trocas de receitas indicavam, ao menos, um tempo mais tranquilo para nós duas. Dois, três anos atrás, estávamos as duas afundadas em complicações vindas do trabalho, da vida acadêmica, da maternidade...
Então pensei em responder dizendo que sempre houve tranquilidade quando conversava com ela. E quis dizer que em momentos muito difíceis, apenas o fato de tê-la por perto, me trazia um alívio igual aquele que encontramos quando sabemos que vamos deixar nossos filhos com alguém de confiança. Pois bem, Silvana sempre foi de confiança. Muito mais ela comigo do que eu com ela. Sempre que sentava no sofá da casa dela e narrava meu sem fim de aflições sabia que ela não me julgaria, não ficaria me dando conselho bobo, me ouviria e certamente ficaria do meu lado e terminaríamos a conversa com um bom café. E era isso que eu precisava. Ter esse sentimento de pertencer a algum lugar, porque sempre tive a impressão de ser tão deslocada, mas com a Sil tudo parecia certo. Talvez tenhamos chegado à maturidade, são quase 20 anos juntas

My heavy heart

  My heavy heart A canção do Coldplay toca no rádio do carro. Your heavy heart é feito de pedra. Você não precisa ser sozinha....voltando ...