segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Conversas de Cecília e os quatro filhotinhos da Tereza

Temos vários gatos  a Lisbela, a gata branca que o Sr. Neide nos deu, no primeiro mês que viemos morar na nossa casa; o Doce-de-Leite (o nome já diz a cor) que era do antigo dono, mas como teve comidinha farta desde o primeiro dia não se incomodou de ficar conosco. A Rajada - que não é nossa, mas vem de vez em quando comer, por isso tem nome. O Bom-bom que é da vizinha e tem uma grande calda peludona, também come aqui, às vezes. E, por fim, a Tereza. Uma gata malhada que não era nossa, mas se estabeleceu. Miona, teve quatro filhotinhos que ocupam grande parte do dia da Cecília. A Cecília é a responsável pela comidinha nos potinhos e pela água. Faz isso todas as manhãs, ou quando eles se juntam na porta da casa miando em coro. Ela conversa, distribui afagos, ralha quando um tenta pegar o potinho do outro. E pelo dia ela vai trazendo historinhas...

Mamãe, o filhotinho da Tereza me mordeu. Mas eu não liguei, ele ainda não tem dentinho forte.
Tereza (a gata mãe dos filhotinhos) eu vou pegar seu filhotinho só um pouquinho para dar carinho. Traz para casa, põe leite no pires, travesseirinho por perto, canta para ninar. Resolve devolvê-lo para a mãe dele: Tereza! Vai aqui um presentinho muito especial!
Depois de uma tarde quase inteira entre os filhotinhos, no galpão no fundo de casa, ela volta: mamãe, aqueles montinhos de pelos são tão fofinhos. Se pudesse trazia todos para dormir na minha cama.
Filha parece que eles estão com pulgas. Não tem problema mamãe, é só tirar assim: passa um pano pelo corpo.
Os carunchos atacaram um saco de farinha. Ficou imprestável para o uso em casa. Dei para Cecília brincar. Depois de um tempo ouço: Uhhuuuuu, Uhhuuu, vem ela do fundo do quintal rindo, gargalhando toda coberta de farinha: mamãe! mamãe! a Tereza gosta de brincar de fantasma! Eu fiz um fantasma e ela fez fuuu para mim.
Ainda com a farinha: acho que poderia transformar as bolinhas de pelos em fantasmas... diz pensativa. Não, não, acho que eles serão piratas.



sábado, 23 de janeiro de 2016

Um mundo sem pressa.

Fui com a Cecília para Porto Alegre. Fomos de ônibus. Levei um celular antigo, de um tempo muito, muito distante em que o aparelho servia para falarmos com outras pessoas. Pois bem, ele não tira foto de qualidades, não tem acesso à internet, redes sociais, etc, etc, etc, e, a bateria dura uma semana (ficou claro o tempo que ele tem). Fomos ao Fórum Social Mundial, fomos à UFRGS, fomos à Praça da Alfandega e ao mercado Público, comemos salada-de-fruta com sorvete de creme, na banca 40. Olhamos as banquinhas de porcelanas e coisinhas antigas. Rimos, nos cansamos, andamos de ônibus, nos perdemos. Sem selfies. Sem fotos na verdade. Uma com a outra, sem pressa. Tudo registrado, como diria o Drummond, na retina de meus olhos cansados. Sim, olhos! Eu tenho muitas fotos, mas não preciso de fotos para tudo. Quero que a vida corra diante dos meus olhos, não da tela do celular. Tudo tem mais cor e poesia assim....

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Dos roubos

Fui roubada. Na entrada do 343 PUC-Agronomia.Ônibus que tem o itinerário que vai da Rodoviária de Porto Alegre até o Campus do Vale, da UFRGS, que fica na saída para Viamão, ou seja, muito longe do centro e muito, muito longe de Santa Maria. Cinco horas. Mas não percebi na hora. De fato, fui perceber ao tentar encontrar minha carteira na bolsa, para pagar o almoço no restaurante da universidade. A primeira reação foi o pânico, depois o desespero: pânico ao descobrir que tudo de minha vida civil havia sido roubado e desespero por não ter dinheiro para pagar sequer o almoço. Gentilmente, muito mesmo, a gerente do restaurante me cedeu um número de conta, para que eu pudesse depositar o dinheiro depois. Ela viu que eu estava transtornada. Depois do susto, veio uma onda de ansiedade: procurar na casinha de descanso dos motoristas e cobradores de ônibus, ligar para a garagem da empresa de ônibus e tentar descobrir se por um milagre minha carteira não havia ficado perdida no interior do ônibus, na vinda. Não. E  o último fio de esperança se vai.  Segundos nos separam do abismo total. Então, ligar para todos os bancos, cancelar cartões, avisar os familiares  - caso alguém ligue antes - sentir medo, muito medo. E pensar: como pude ser tão distraída? Mas eis então que percebo que um mecanismo bastante utilizado pelo Estado para mascarar a seu total descaso com a segurança: a vítima é que é culpada. Não, não sou. E me nego a assumir esse rótulo. Minha carteira estava dentro da minha bolsa, embaixo do meu braço, em um lugar público onde circulam milhares de pessoas e não havia nenhum policial, nem mesmo posto da polícia e eu, por não ser portadora de RG do Rio Grande do Sul, nem mesmo pude fazer a ocorrência online. Eu sou vítima. Os bandidos são outros: a pessoa que me roubou literalmente e o Estado que não nos protege, nunca. Sim, há ainda tanta generosidade no universo e nenhuma dela é do poder público: minha orientadora que pagou minha passagem de volta para casa, a Soraia do guichê de venda de passagens (da pior empresa que já conheci - a Veppo, da Rodoviária de Porto Alegre) que ignorou falta de quatro reais para completar o dinheiro da passagem, as funcionárias da secretaria da pós que gentilmente me emprestaram o telefone e me auxiliaram, a funcionária do restaurante...E ao entrar no ônibus eu pensava que poderia ter sido muito, mas muito pior: alguém com arma, violência física. Chorei muito, por imaginar meus documentos jogados em qualquer lixeira. E pensei que as formas de violência do capitalismo não têm limites: pobres roubando outros pobres, enquanto os ricos se refestelam em praias, iates (muitos mantidos as custas do dinheiro público), cercados de seguranças por todos os lados. Só me acalmei quando entrei em casa e vi os olhinhos da Cecília, ainda acorda, feliz da vida com minha chegada. Resignada, aceitei o senso comum: poderia ter sido ainda pior.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Ano novo.

Quão previsível é começar um texto nos primeiros dias de janeiro com tal título? Pois bem, previsibilidade é parte do jogo entre autores e leitores. Se há surpresa é porque o leitor se desatentou em algum momento. Eu sou a mais crente das leitoras. Sempre há surpresa. Pois bem. Não fiz promessas. Não fiz listas. Não estabeleci metas: mas quero ver a Cecília crescer. Publicar e escrever a tese.  Cuidar do jardim. Andar mais de bicicleta. Ler os livros da minha pilha imaginária que se acumulam desde a graduação. Dirigir menos. Viver, respirar sem pressa e tentar dormir mais duas horas por noite. Pois bem. Tornou-se uma lista. Coisa inapropriada de rever a gente pelo lado do avesso é que sempre enumeramos, para o bem o para o mal, um  monte de aflições que estão ali, na espreita, esperando uma virada de ano, um aniversário, para voltarem, aparecem. Não quero aflições, por isso também, os ditos enumerados não são resoluções. Quero a previsibilidade. Um ano sem surpresa, onde eu consiga reparar os sinais e me preparar. Quando era pequena e morava em Luiziana, sempre sabia de onde vinham as nuvens das piores chuvas. Com tantas mudanças feitas, demoro para perceber. Então, para 2016 quero, de novo, saber de onde ficam as nuvens com as piores tormentas. Não, elas não deixarão de vir.  Mas poderei fechar a casa, recolher as roupas e os gatos. E poderei escolher se sinto medo ou alívio em sabê-las

My heavy heart

  My heavy heart A canção do Coldplay toca no rádio do carro. Your heavy heart é feito de pedra. Você não precisa ser sozinha....voltando ...