quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Campo de Vaga-lumes

Há coisas na vida que são para sempre. Uma delas são os vaga-lumes. Quando éramos pequenos, numa passagem que me lembro pouco da minha vida, a vó Dolores mudou-se para perto da Lagoa dos Sapos, lá em Luiziana. A casa dela seria reformada e ela precisou ficar morando nessa por alguns meses. Havia uma pastagem no fundo da casa e à noitinha enchia de vaga-lumes. Eu e o meu irmão ficávamos até escurecer tentando pegá-los. Era lindo. Hoje, eu e a Cecília dos deparamos, na campina da universidade, com um campo de vaga-lumes. Parecia um céu no chão. Um céu de estrelas que se mexiam. E a Cecília observou: mamãe as estão pulando na grama!!! E saímos catar estrelas. Quando pegávamos o vaga-lume ela olhava impressionada a luzinha piscando e depois soltava. E ria. Igual a mim e ao meu irmão e eu pensei que a infância é assim para gente: um céu de estrelas pulando no chão.



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Para dias cinzas

O violão
A manhã cinza
A saudade
Esquecidas as palavras de trabalho
Caberia você, ao menos, em minha poesia
Caberia o desejo no silêncio infinito que  fizeste?
Eu e minha destreza para pertencimentos
Digo-lhe de amor, assim, atravessado
Como quem desconhece os mistérios
- ou neles perdida está -
Digo-lhe de falta como quem sente festejar por dentro
Algum sentimento indolente e obscuro
Que agiganta em mim a tua urgência.
A manhã cinza
O violão
As palavras não te alcançam
Mas o que mais poderia eu fazer?


sábado, 6 de fevereiro de 2016

Das coisas que guardamos dos caminhos

Em O Amor no Tempo do Cólera o amor entre Florentino Ariza e Fermina Daza é algo da ordem do inusitado. E lá pelas tantas na narrativa, Florentino pergunta algo como 'o que fazemos com o amor que sentimos e não podemos sentir, dizer?' A pergunta não é exatamente essa, mas o que fazemos? O que fazemos com a coleção de sentimentos que vamos juntando ao longo da vida? Eu, como bem disse em outros escritos, sou das que sente e guardam, como se o sentimento fosse um velho conhecido, alguém que encontro de quando em quando e a quem cumprimento respeitosamente. Sempre tive dessas estranhezas: carregar relicários de pequenas lembranças de lugares, pessoas, cheiros, para sentir saudades. Antes, quando ainda era afoita para entendimentos, não compreendia bem, achava melhor não pensar sobre esses descaminhos. Agora, mais velha, acho mesmo graça em relembrar e em sentir saudade. É um exílio. Na criancice me alongava para o quintal, sempre fui de silêncios para as coisas não compreendidas, agora me alongo para esses lugares que me habitam. Pensar isso, me faz lembrar do sítio. Na roça a gente tem os morros onde os ventos fazem dançar o capim. Custava para me cansar de ver a dança. E em dias como o de hoje, quando há no  cheiro da tarde qualquer coisa de conhecido, me lembro da sensação. Talvez seja a razão de guardar: a dança do capim, o cheiro da velhice da minha vó, da mala de motorista do pai... Talvez sejam as coisas que guardamos do caminho. Quem sabe isso e o amor que sentimos e que não podemos mais dizer....

My heavy heart

  My heavy heart A canção do Coldplay toca no rádio do carro. Your heavy heart é feito de pedra. Você não precisa ser sozinha....voltando ...