sábado, 6 de fevereiro de 2016
Das coisas que guardamos dos caminhos
Em O Amor no Tempo do Cólera o amor entre Florentino Ariza e Fermina Daza é algo da ordem do inusitado. E lá pelas tantas na narrativa, Florentino pergunta algo como 'o que fazemos com o amor que sentimos e não podemos sentir, dizer?' A pergunta não é exatamente essa, mas o que fazemos? O que fazemos com a coleção de sentimentos que vamos juntando ao longo da vida? Eu, como bem disse em outros escritos, sou das que sente e guardam, como se o sentimento fosse um velho conhecido, alguém que encontro de quando em quando e a quem cumprimento respeitosamente. Sempre tive dessas estranhezas: carregar relicários de pequenas lembranças de lugares, pessoas, cheiros, para sentir saudades. Antes, quando ainda era afoita para entendimentos, não compreendia bem, achava melhor não pensar sobre esses descaminhos. Agora, mais velha, acho mesmo graça em relembrar e em sentir saudade. É um exílio. Na criancice me alongava para o quintal, sempre fui de silêncios para as coisas não compreendidas, agora me alongo para esses lugares que me habitam. Pensar isso, me faz lembrar do sítio. Na roça a gente tem os morros onde os ventos fazem dançar o capim. Custava para me cansar de ver a dança. E em dias como o de hoje, quando há no cheiro da tarde qualquer coisa de conhecido, me lembro da sensação. Talvez seja a razão de guardar: a dança do capim, o cheiro da velhice da minha vó, da mala de motorista do pai... Talvez sejam as coisas que guardamos do caminho. Quem sabe isso e o amor que sentimos e que não podemos mais dizer....
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