quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Da irmandade

Fui criada muito no interior e lá, mesmo a contragosto - em muitos casos - éramos pessoas coletivas. Eram tias, primas, vizinhas, amigas da escola. Uma rede de proteção e, mesmo que não tivéssemos direto à privacidade, pois éramos vigiadas, aconselhadas, vestidas e cuidadas por um todas, não nos importávamos verdadeiramente. Para mim, as tardes nas cadas das tias, avós, vizinhas..., tinham um efeito reconfortante. Relações majoritariamente femininas, por isso lembro-me de que ficavam em casa as crianças da minha vizinha quando ela ia para algum lugar, por isso nós ficávamos na casa dela quando a mãe saia. Era uma sororidade brusca, mas, ainda assim, nos fazia (a mim pelo menos) ter a impressão de pertença. E eu sempre precisei pertencer.
Tudo isso para falar da Silvana.
Pois bem, Silvana não foi minha vizinha. Moramos perto por algum tempo, ela casa do fundo do portão azul, eu, com a minha mãe e meu irmão. Conto da Silvana, pois pedi outro dia umas receitas culinárias e ela me mandou com uma observação de que as trocas de receitas indicavam, ao menos, um tempo mais tranquilo para nós duas. Dois, três anos atrás, estávamos as duas afundadas em complicações vindas do trabalho, da vida acadêmica, da maternidade...
Então pensei em responder dizendo que sempre houve tranquilidade quando conversava com ela. E quis dizer que em momentos muito difíceis, apenas o fato de tê-la por perto, me trazia um alívio igual aquele que encontramos quando sabemos que vamos deixar nossos filhos com alguém de confiança. Pois bem, Silvana sempre foi de confiança. Muito mais ela comigo do que eu com ela. Sempre que sentava no sofá da casa dela e narrava meu sem fim de aflições sabia que ela não me julgaria, não ficaria me dando conselho bobo, me ouviria e certamente ficaria do meu lado e terminaríamos a conversa com um bom café. E era isso que eu precisava. Ter esse sentimento de pertencer a algum lugar, porque sempre tive a impressão de ser tão deslocada, mas com a Sil tudo parecia certo. Talvez tenhamos chegado à maturidade, são quase 20 anos juntas

Um comentário:

  1. O café da Silvana é uma delícia,o pão da Silvana é uma delícia, o abraço da Silvana é uma delícia, a risada da Silvana é uma delícia,... enfim, a Silvana é uma delícia.

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