sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Camaradas

Estou em um grupo que discute Marx. Nos conhecemos e nos juntamos pelos ardis da vida, da história e - de algum modo - da militância. Como estamos todxs no meio de muito trabalho, quase não nos falamos mais. Eu por causa da escrita da tese, inclusive, deixei de lado as redes sociais. Eis que porém, por causa de uma mensagem de uma colega que está em Paris, entrei no Face e vi que o nosso grupo marxista estava com mensagens não lida. Todas de saudades. Como sou a mais nova no grupo me senti muito, mas muito confortada, pois sempre senti uma inadequação no mundo virtual. Já saí várias vezes do Facebook, por exemplo, não me enquadro. Eu sou antiga, pensei, diante da velocidade imposta pelas amizades das redes sociais. Nasci em Luiziana e lá tinha, no meu tempo de meninice, uma coisa de lugar perdido. Não íamos nem nas vizinhanças - nossas mães não deixavam - no domingo talvez. Por isso, sempre que nos reuníamos era em frente de casa, tios, primos, primas , amigos, amigas. Não havia muito o quer ser feito, então, conversávamos. Todos sabiam de tudo e, apesar de não haver para aquele tempo, máquinas fotográficas, lembro-me dos detalhes das pessoas. Do jeito que elas riam e gesticulavam ao falar. Também não havia meios de ser ignorada, não havia mal entendido que durasse muito, pois, sentávamos juntos, todos se viam, ouviam, observavam um levantar de sobrancelhas, um olhar enviesado, um tom mais áspero na voz. Essas variações davam poesia à amizade. Você olhava e via e reparava as pessoas. Você as respondia, prestava atenção e havia nisso um conforto. Aí vi mensagem do meu camarada do grupo de Marx: dizendo qualquer coisa sobre o mundo virtual não ser humano. E pensei: ele é antigo também, as outras camaradas também responderam de similar forma e pensei de novo: também antigas, também com aquela vontade de reunir-se para falar de Marx, de música, de poesia, rir, olhar nos olhos, escutar a voz e saber a pessoa por dentro, não pelas palavras que ela digita. Senti vontade de chorar, não de tristeza, mas por achar no mundo gente é poesia ainda, que sabe o valor da camaradagem, talvez tenha eu tenha sentido conforto para poder ir bem devagar.

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