Eu vi a imagem do menininho
deitado na areia. De sapatinhos ainda. Quanta dureza cabia naquela foto. Ali o
pequeno, sem mãe para protegê-lo e segurar sua mãozinha, sem beijo para curar o
dodói. Da coisas mais terríveis que podem ser feitas, agredir crianças é sem
dúvida a maior delas pois, diferente de nós, as crianças não têm nenhum preparo
para a imensa dor, para a tristeza, porque não desconfiam. A foto me lembrou
outras tantas: das crianças morrendo de fome na África, das crianças morrendo
de fome no Brasil. Num mundo onde tantas crianças morrem de forma surreal, algo
vai muito mal. Eu chorei vendo o policial com o pequeno no colo. Chorei, pois quando nossos filhos/as ficam doentes o
que queremos é apenas apertá-los bem forte para o amor que sentimos seja
possível fazer com eles melhorem. E o menininho foi amparado por um estranho
que, constrangido pela situação, o pegou. Sem amor, assim. Passei o dia
tentando remediar a mim mesma por tal sentimento de impotência. Como eu poderia
ajudar? Todos podemos. Consumindo de forma mais consciente. Preservando os
recursos, cuidando uns dos outros, evitando que o lucro e o parecer ser nos
defina. Lutando por um mundo mais igualitário, criando nossos filhos para
continuar a luta. Não se calar diante das atrocidades cotidianas, das ofensas
aos que nada têm, parando de admirar gente que é uma casca e só, parando de
acreditar que vivemos em tempos líquidos. Não vivemos. E a morte de Aylan nos
mostra isso. É preciso lutar contra a temeridade de sermos governados por
senhores da guerra que esfacelam o tempo e as nossas vidas para continuar
lucrando. Que escolhem quem irão proteger, sempre pensando em como lucrar com
as tragédias – seja com armas, com comida, com asilo. A farsa da ajuda, do
acolhimento, quando na verdade eles mesmos provocaram tamanha desgraça.
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
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