domingo, 29 de outubro de 2017
Sol de Santa Maria
Sou das andanças. Deve ser o sangue cigano de minha avó paterna. Há em minhas memórias: rios, figueiras, parreirais, grandes campos verdes dobrados com os ventos, sangas, minas d'água, avencas e sol. E em Santa Maria o sol é, por força de classificação, difuso. Há uma intensidade desdobrada nos morros que cercam a cidade, criando uma espécie de caleidoscópio de pequenos raios que rebrilham por entre as árvores. E criam uma imagem para a nostalgia, para a saudade. E no silêncio de minha casa vazia o sol ia preenchendo esses lugares que não fazem sentidos por dizeres. Minha casa. Que pronome inadequado. Quem é de andanças já não tem pronomes possessivos em narrativas de passagens aqui e acolá. Há, de certo, o contrário: despertencimento. E era esse sentimento que os raios do sol de Santa Maria curavam. Do mirante de Silveira Martins até os prados de Arroio Grande, com o vento quente de dezembro ou o sul de inverno, havia uma permanência: aquele jeito peculiar que o sol descia pelas pastagens e alagados. Não é da ordem do repetível. Só lá eu via aquele sol. O sol de Santa Maria.
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