terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Do amor que nos redime

Cecília fez, em setembro, cinco anos. Ela é como toda criança de cinco anos: transforma o mundo em um lugar mágico, melhor e mais colorido. E transborda amor, sempre. Toda noite eu faço o "mamá"  dela e como faço desde que introduzi a mamadeira, fervi e fui retirar da panela, pequei o fundo do objeto com a mão mesmo, por puro costume. E ela, do outro lado da cozinha, olhinhos aflitos:
- Mamãe, pega um garfo para tirar o resto. Não quero que você queime o seus dedinhos. Dói muito.
Me senti como sempre me sinto quando ela me diz essas coisas: com um aperto no coração de tanto amor. Deixei tudo e a segurei no colo bem apertado. Eu nunca imaginei a maternidade para mim. Não sou o tipo babão de mãe, nem curto muito para ser sincera, entretanto, é inegável que o amor que nos une a um filho é algo absolutamente pleno: nos dias mais turbulentos, nas grandes canseiras, no descompasso do mundo, tudo o que eu quero é chegar em casa e sentir o cheirinho da Cecília. Ele resume, de forma precária, o amor: saber que há alguém no mundo que não vai se importar com nada além de você, mesmo com a ilusão que sempre alimentei de conhecê-la profundamente, o que acontece é justamente o contrário: ela me conhece e  me ama sem reservas. Fiz escolhas muito ruins na minha história e que me ensinaram valiosas lições, fiz também outras que me deram algum conforto, escolher ficar sempre por perto da Cecília foi a mais acertada de todas. Não por ela, por mim. Eu precisava de amor incondicional e encontrei. Para fechar esse escrito, enquanto ela estava em meu colo, ela disse baixinho:
- Tudo bem mamãe, se você queimar o seu dedinho, eu cuido de você: coloco gelinho e remédio. Ela não sabe ainda, mas todos os dias ela coloca o remédio. Todos os dias.

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