Das tardes de domingo
Antes – da pressa, dos prazos, da internet, da correria – os
domingos eram o dia da preguiça. Acordava tarde, ajudava aqui e ali em casa,
via a vida no quintal, voltava para preguiçar mais um pouco: arrumar uma
bagunça no quarto, nada que exigisse grande esforço. Almoço, um pouco mais de
preguiça, talvez um cochilo, ler alguma para a segunda e ir ao encontro. O
complemento do verbo é sempre fundamental, pois nos anos que seguiram minha
mudança para Campo Mourão, não faltaram grandes camaradas: íamos ao parque do Lago
quando ainda havia lá lanchonete e shows no fim da tarde. Quase sempre MBP. Foi
ali que ouvi pela primeira vez Jardim da Fantasia: “Bem-te-vi, bem-te-vi e
andava num jardim em flor....” do Paulinho Pedra Azul. A vida acontecia de
outro modo, muito do que aprendi sobre militância, poesia e boa música está
relacionado a esse período. Outro dia visitei o Parque do Lago e todo aquele
espaço disponível e pouco utilizado é um desalento... E me lembrei disso hoje,
pois a Cecília acordou cedo e feliz da vida por ser domingo. Ah o tempo que não
quer ir mais devagar! Essa correria que faz com estejamos sempre a nos deparar
com a saudade de um tempo ido e deseja-lo de volta. Ainda bem que as crianças
estão aí a espalhar sabedoria, correria e bolhas de sabão nos domingos,
colorindo tudo, nos mostrando que a saudade é sempre um lugar de sorrisos, de
melodias conhecidas, de cheiros de gente amada, mas que o real é o lugar da
poesia. Encontrar o domingo da vida é encontrar a história e nela tecer outros
caminhos....
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