Recebi há muitos anos atrás como presente de aniversário, o livro Longe é um lugar que não existe, do Richard Bach (Fernando Capelo Gaivota). Li e reli naquele período e não entendi, até que hoje, procurando o Roland Barthes, encontrei o livro e com muito atraso compreendi o gesto e o amor atrás das palavras escritas... E isso me fez pensar: e quando as palavras não são ditas, mas significam? E se nós a compreendemos assim, tão longe daquele instante em que foram enunciadas? O que fazemos com o sentimento que em nós é despertado? Ignoramos? Trancamos novamente o livro e as coisas ditas e não tidas dentro da estante? Eu como sou ensimesmada (ou enmimesmada) e guardo esses acontecimentos que vão bordando a minha história, assim, quando acontece tal tipo de sortilégio, uma emoção desconhecida e avassaladora cresce no peito. Talvez saudade, talvez o próprio amor de antes. E uma vontade cálida de um abraço antigo, de uma conversa atordoa o dia. Não há nisso arrependimento, desgosto, há uma saudade genuína - igual a que temos de quando somos crianças - há um apego que fora esquecido e se derrama bruscamente como as tormentas de verão. E descubro atônita que as palavras não ditas habitam, em forma de silêncios, saudades e suspiros a minha existência. Não chega a ser tristeza, apenas aquele olhar oblíquo para o dia, para os morros que se perdem no horizonte, fazendo as palavras brotarem, como agora.
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